O Paura dispensa maiores apresentações, uma entidade do hardcore nacional, na ativa desde 1995, com inúmeros discos lançados, sempre mandando muito bem e cativando qualquer um que tenha contato com a energia desse som, sou fã desses caras, e do Fábio Prandini principalmente, figura gente boa e muito carismática com quem tive o prazer de falar nessa entrevista que você confere a seguir!
Pra começar e
situar quem talvez não conheça o trabalho da banda, gostaria que nos contasse
como surgiu o Paura e quem são os atuais integrantes?
Fábio Prandini: A banda começou em 1995. Desde então, lançamos 6 discos, dois EPs e dois splits. Tocamos em quase todos os estados do Brasil, além de 6 turnês europeias e 5 turnês sulamericanas. Hoje, a formação está estabilizada com Fabio Prandini (vocal, desde 2001), Rogério Rodontaro (guitarra, desde o começo), Claudinei Ferreira (guitarra, desde 2014), Paulo Demutti (baixo desde 2014) e João Limeira (bateria, desde 2014).
Paura é uma
banda testada no underground, anos de serviços prestados ao hardcore nacional,
disco após disco evoluindo e apresentando muita qualidade e talento, depois de
tantos anos na estrada o que os motiva a seguir em frente?
Fábio: Amor! A gente ama o que faz. Não tiramos nosso sustento disso, infelizmente, mas vivemos pra isso e por isso, felizmente. Além disso, o mundo nos parece cada vez pior, caminhando pra um lugar escuro, ruim e desumano. Não podemos desistir da nossa batalha pra tentar mudar esse cenário. Por mais ingênuo que isso possa soar, desistir nunca foi uma opção.
Seu último
lançamento, “Tameless” é realmente um grande disco, faixas como “N.W.A”, “Gas
Diplomacy” e “The privilegie”, dão a tônica do que se pode ouvir nesse álbum,
como foi o processo de composição do mesmo e o que vocês buscam em termos de
sonoridade ao iniciar o trabalho de composição de um novo álbum?
Fábio:Obrigado pelas palavras. O processo foi o mesmo de sempre, alguém chega com ideias no ensaio e todos se envolvem e desenvolvem ideias complementares para que a sonoridade continue fiel ao que a banda sempre experimentou. Basicamente é isso. Tentamos nos manter fiéis à personalidade musical do Paura, sem medo de tentar novos caminhos dentro de um bom senso musical e lírico.
Desde
“Tameless” já se passaram quase três anos, qual o balanço que vocês fazem dos
resultados deste disco? Vocês já possuem novas músicas compostas ou planos pra
um novo disco?
Fábio: Foi um disco muito bem aceito, em geral. Tivemos tempo para trabalhar o 'Tameless' na estrada com diversos shows pelo Brasil, Chile e Europa. Agora estamos entrando em estúdio para gravar o novo disco. Trabalhando para colocá-lo nas ruas no meio de 2017.
Hoje com um
catalogo bem amplo, que tipo de critério vocês utilizam pra escolher quais músicas
vocês vão tocar em suas apresentações ao vivo?
Fábio:É um trabalho bem complicado, pois temos um repertório de mais de 60 músicas ao longo da carreira e temos que escolher entre 13 e 15 músicas para compor o setlist dos shows (às vezes até menos). Geralmente, escolhemos as músicas que mais representam a postura da banda e que mais gostamos de tocar.
Dia 19 de
março vocês vão dividir o palco com o Madball, como surgiu o convite pra esse
show e quais as expectativas da banda pra essa apresentação? (N.E. O show do Madball foi adiado devido a problemas familiares de um membro da banda, a nova data e local vocês podem conferir no cartaz do show após a resposta).
Fábio:A Honor Sounds nos convidou para participar de mais essa aula e aceitamos muito honrados de poder estar junto, mais uma vez, dos nossos professores, que já se tornaram amigos. A expectativa é sempre a melhor possível. Poder representar o cenário hardcore local ao lado de um dos maiores representantes do NYHC é sempre uma situação onde sabemos que vamos nos divertir e trocar ensinamentos, tanto com os caras do Madball, quanto com nossos aliados do Bayside Kings e do Oponente. Toda experiência é valiosíssima num circuito onde não existem rock stars!
Fábio, você
também atua na Samsara Discos, você poderia nos contar um pouco sobre esse
outro trabalho que você executa?
Fábio:Estou começando, com pouca verba mas muito trabalho. Espero dar um apoio para as bandas que dificilmente elas tem em termos de gravadora. Lanço discos, merchandising, loja online, monto banquinha nos shows, trabalho como assessor de imprensa, agendo shows e ajudo com logística e contatos para desenvolvimento de projetos maiores. Como estou sozinho, não consigo ainda trabalhar tudo isso em todas as bandas que estão no selo, mas aos poucos, estamos progredindo.
Essa é uma
pergunta bem especifica e motivada por um gosto pessoal que tenho pela música
do Paura, minha faixa preferida da banda é “No hard fellings, fuck you!”, vocês
poderiam me contar a história dessa faixa do excelente “History Bleeds”?
Fábio:Essa música foi composta em 'homenagem' a todas as pessoas que te dão 'tapinhas nas costas', que sempre falam o tal "tamo junto", mas que na hora da verdade se escondem e, pra se proteger ou não se envolver, desaparecem quando se mais precisa delas, quando a coisa fica pesada. Pessoas que usam da política da boa vizinhança dentro de um cenário de subcultura em que as verdadeiras amizades prevalecem. Gente assim, não pertence ao nosso círculo de alianças e amizades e não fazem falta na caminhada por algo maior. Basicamente, é um recado aos sanguessugas da cena.
A cena
hardcore é super produtiva, há dezenas de bandas lançando material de
qualidade, que nomes vocês destacariam que chamou a atenção de vocês nos
últimos tempos?
Fábio:Está mesmo e isso se reflete na dificuldade em relacionar alguns nomes entre tantos aqui, sem ser injusto ou esquecer alguém. De bate pronto, lembro de bandas como Amorfo, Violent Stomp, Letall, Direction, CHCL, Charlotte Matou Um Cara, Cano Cerado, Escombro, Shotgun Killah, enfim são muitos e devo ter esquecido várias bandas (a idade pesa...hahaha).
Pra finalizar,
deixo este espaço pra que mandem um salve aos leitores do Microfonia e fãs da
banda e muito obrigado pela atenção! Valeu!
Fábio:Obrigado a todos que leram a entrevista até aqui! Estamos vivendo tempos difíceis. Muita gente se deixa levar por retóricas superficiais e por verborragia vazia geradas por mídia corporativa e canais de redes sociais que não se aprofundam em fatos e apenas transformam tudo em sensacionalismo para vender anúncios comerciais e opiniões manipuladoras de massa. Mantenham-se instruídos. Leiam muito. Desconfie de tudo o que você lê ou assiste. Esse jogo sujo vem de muito tempo e está cada dia mais forte. Não entre nessa! Mude o jogo. Mantenham fiéis aos seus ideais e cuidem uns dos outros. O governo, as corporações e o crime não se importam com o povo. E nós, o povo, temos uma força muito maior do que achamos ou sabemos. Confrontemos sempre as ideias e pessoas fascistas, sejam elas originárias da direita ou da esquerda. A tirania e a ditadura podem vir desses dois lados e não existem somente esses dois lados. Há muito mais posições e ideais políticos. Não se defina. Não se limite. E cuide!
Nos vemos nos shows e nas ruas!