sábado, 19 de agosto de 2017

ENTREVISTA COM JULIANA MAROTTA DO PROGRAMA ÓDIO MORTAL

Hoje nosso papo é com a apresentadora do programa de rádio Ódio Mortal, DJ e integrante do Coletivo Refuse Resist, Juliana Marotta, falamos a respeito dos trampos desenrolados por ela e sobre a participação feminina na cena underground e as barreiras existentes nesse sentido, no mais confiram a entrevista que ficou daora e conheçam mais  sobre a Bajul!!!



Fala Juliana, obrigado por ceder um tempo para trocar uma ideia com a gente, primeiramente gostaria de falar sobre o programa em que você é locutora, o Ódio Mortal, como surgiu o mesmo e de que forma você se envolveu nesse trampo?

Eaeeee! Valeu vocês do Microfonia! O Programa na verdade já tem uns boooons anos. O Chiclé (Flavio Fernandes), que apresenta o programa junto comigo, tinha uma gravadora nos anos 80, fez uma coletânea punk chamada Ódio Mortal e nesta época chamaram ele pra fazer um programa em uma rádio FM e ficou com o mesmo nome. Anos depois ele criou a Antena Zero com a Tati (Tatiana Meyer, sua esposa) em 2013 e “reviveu” o programa.
 Eu entrei em 2014, conhecia o pessoal da loja The Records (Loja de discos do centro de SP),  tinham o programa “The Records Noise Show” que também rolava as quintas-feiras, a rádio tem um grupo no facebook, então a galera costumava ouvir os programas e faziam tipo de um Chat. Neste período, o programa era apresentado pelo Chiclé e o Ricardinho (Ricardo Perez), um dia em um dos posts, o Ricardinho me chamou pra participar do programa e no mesmo dia da gravação, o Chiclé já “me intimou” pra ficar haha

Para quem desconhece o que rola no Ódio Mortal, como você descreveria o conteúdo que vai ao ar?

Resumindo: punk/hardcore com piadas sem graça hahaha. A gente brinca que é o programa mais esculhambado da Antena Zero, mas levamos a sério sim! haha O Ódio Mortal é um programa semanal, rola toda quinta-feira as 21h. Os setlists hoje em dia é bem variado!  Rola sons desde Powerviolence ao punk “mais calmo”. Tento sempre colocar bandas diferentes pra galera conhecer.

Hoje existe uma nova relação das pessoas com a música, as formas de ouvir e interagir se modificaram, com o streaming e as rádios on line, por exemplo, todos podem produzir e consumir conteúdo, você acha que isso auxilia ou atrapalha no underground, uma vez que existem centenas de pessoas jogando material na rede o tempo todo?

Hoje em dia ajuda bastante em divulgação e tal... Conhecer bandas, eventos e pessoas, coisas novas em geral... E ao mesmo tempo atrapalha se não tiver uma certa “conscientização” de apoio, por exemplo com bandas, lançam as paradas, mas a galera não compra um material físico, por ter na internet sem custo... A banda tem que pagar ensaio, pagar gravação, pagar os corres de arte pra aquilo tá no ar, acho superválido ter o material físico!

Como funciona o trampo de produção da programação do Ódio Mortal, quem mais trabalha com você nessa empreitada?

Sempre conversamos para decidir o Setlist, temos algumas vinhetas de temas que sempre tocávamos como Skate Punk, UK82, Straight Edge, Bagaceira (Powerviolence, fastcore e afins), Clássicos do Punk Rock (Punk Gringo) e Crássicos do Punk Rock (Punk Nacional). Ultimamente eu que tenho feito os sets e não tem algo em especifico. As vezes uso uma palavra chave pra fazer os blocos de músicas, procuro bandas diferentes para galera conhecer (e até eu acabo conhecendo mais nesta procura haha)
De início, o Chiclé apresentava sozinho, entrou o Ricardinho para ajuda-lo e eu logo uns meses depois. Após 1 ano mais ou menos que comecei o Ricardinho saiu e atualmente sou eu e o Chiclé que apresentamos e de vez em quando alguns amigos gravam com a gente também



Além do site, tem outros canais onde rola de conferir os programas inéditos e os anteriores?

Para escutar o programa, em tempo real é pelo site da rádio www.antenazero.com ou pode baixar o aplicativo TUNEIN e procurar pela rádio Antena Zero.
Os programas mais antigos (2016 para trás) estão pendentes para upload no nosso canal.  Este ano estamos atualizando Mixclound,  podem conferir aqui: https://www.mixcloud.com/programaodiomortal/
Na nossa página do facebook ( Programa Ódio Mortal ), tem um álbum de fotos com cada flyer e na legenda o link referente ao programa da foto. OS Setlists vocês podem conferir tanto no mixclound ou na nossa página. Usamos também um perfil no Instagram ( @programaodiomortal ) Onde colocamos os flyers da semana e algumas fotos ou “stories” da gravação do programa e divulgação de eventos envolvidos.

Como locutora de um programa de rádio, você deve ter contato com bastante material legal, que bandas que você conheceu nos últimos tempos que você diria que merecem ser ouvidas com mais atenção?

Aí você me complica! Hahaha É difícil mencionar algumas, porque sinceramente mesmo, quase todas bandas que recebemos no programa, que mandaram som para nós tocarmos, foram boas! E tem também o gosto musical pessoal, gosto das hardcore tipo oldschool, posso citar o Vingança 83, acho uma ótima banda com conteúdo político e sonoro! 1984 me agradou bastante também. Com um punk mais “pogante” (77) o Constraste, punk mais rápido o Bandido da Luz Vermelha. Manger Cadavre?  e Nuclëar Fröst além do som, as minas tem presença de palco no vocal bem legais! Static Control (Nardcore) que tem integrantes que já tiveram várias bandas legais... Mais pro metal o Cranial Crusher e Imminent Attack... Por fim, pra não estender mais haha sem puxa-saquismo nenhum, curti conhecer o Alto Nível de Insanidade, AxCxBx e o Mollotov Attack são as bandas do coletivos, porém eu conheci a pouco tempo também!

Você já integrou ou integra alguma banda atualmente?

Em 2008 eu participei do “No Estoy Convencido!” haha durou uns 4 meses e 1 show no Espaço Impróprio (RIP), aniversário de um amigo nosso o PUCCI FEST haha (mas gente é PUCCI mesmo, pq era o sobrenome dele, Renato Pucci! Haha) banda de hardcore com músicas próprias e tocávamos (tentávamos né!?) cover de Limp Wrist (Fake Fags) e Los Crudos (Las Madres), aliás, o nome da banda é referente a uma música do Los Crudos. Acabou por alguns dos integrantes se afastar dos roles de show e tal. Tem alguns vídeos no youtube, foram os únicos registros (Valeu Mauá Bucvideos!), tenho vergonha desses vídeos, pq tava morrendo de vergonha no dia.  Era/Sou muito tímida, não sei como encararia hoje. Além desse projeto, só estraguei música/show dos amigos hahaha

Como mulher, como você enxerga a participação feminina no underground atualmente? E o que você diria para incentivar outras minas a meter a cara seja tocando, produzindo, ou organizando eventos?

Cada dia tenho visto melhorar essas paradas, muito mais as minas na frente! Posso citar aqui alguns eventos  como o Maria Bonita Fest que já está na sua 5ª Edição, o HI HAT Girls Magazine que dão oficina de bateria em SP/RJ até para crianças e tudo voltado a mulheres, as minas do RAP , pelo mínimo que conheço tem feito as próprias batalhas... Entre outros fests produzindo por ELAS, não digo só mulheres cis, está surgindo aí mais fests com a visibilidade lésbica e trans! Apesar de todo role, todo lugar ter alguma pilantragem, as minas que querem realmente produzir, não deixem de correr atrás, procurar alguma oficina gratuita (pq grana eu sei que é bem difícil ter de boas haha), que não se desmotivem por críticas! Sempre terá!  Procura de repente as minas que já manjam dos eventos, a maioria sempre tá disposta a uma boa conversa e somar, não esperem tudo na mão, façam o corre de tudo que quiserem produzir por mais “difícil” (grana, tempo, conhecimento...) que seja.
Éééé... as minas tão se organizando cada vez mais, tomando espaços e cargos, bem legal de se ver!

Obviamente temos muito o que evoluir no que diz respeito a machismo e todo tipo de preconceito dentro da cena, isso existe e não há como negar, você já passou por alguma situação dessa natureza, no trabalho ou no rolê?

Quem nunca? Essa pergunta seria mais difícil você achar alguém que NUNCA tenha passado algo. Homens nunca entenderão, por mais que digam “ nossa que chato acontecer isso... nossa deve ser ruim a situação né, IMAGINO...”. Mas nunca vão entender e realmente imaginar, o que é atravessar a rua pra não passar na frente de um local cheio de homens, de poder estar até de tênis velho, moletom largo e calça larga, passar por um homem alheio e ouvir grosserias, desrespeito com você que só ta caminhando e sentir aquele medo e a raiva de querer revidar .... Querer ver satanás, mil demônios e a mina do exorcista na sua frente, mas não querer ver algum único homem de noite em rua pouco movimentada e/ou escura.  No meu trabalho aconteceram situações sim, mas não comigo. A última delas foi fora, um grupo de 5 meninas foram ao restaurante onde sempre almoçam após o horário e caras da mesa ao lado, ficaram fazendo gestos obscenos. Fora o que já ouvi falar de algumas colegas sobre outros empregos.... No underground passei sim, até hoje as vezes acontece, não é um lugar seguro como a gente sonha com os discursos libertários rs. Tem shows que você tá ali, parada, nem próximo a roda e nem nada, só de boas e aparece uns desgraçados apertando a cintura e tal. Ambiente escuro, muvuca, como saber quem foi? Vejo as minas que tocam, sempre falaram que são questionadas quanto ao que tocam e quanto aos aparelhos que usam, se sabem usar né.... Toda mina tem uma história pra contar, infelizmente. Além de situações únicas com você, tem aquela velha história que até hoje se repete. Se você namora alguém do role, você é simplesmente a NAMORADA DO FULANO, não você. Se querem te chamar pra algo, falam com ELE e não você.... Devem desculpas pra você? Falam pra ELE e não pra você. Se você apoia seu companheiro de alguma forma no que ele faz, o agradecimento vai pra ELE e você fica de bônus. Evento? Ah se seu companheiro não pode ir por algum motivo X, nem te chamam e etc... 

Que iniciativas no sentido de valorizar a participação das minas no underground, você destacaria hoje?

Com a resposta da pergunta acima, comecem não fazendo isso por favor haha Colem nos shows, vejam o material, não só de bandas, mas das minas que produzem algo. Ta fazendo um evento? (É uma merda porque soa como “cota de mina”) Mas chama elas também, faz um evento equilibrado...Não corta as falas delas rs E quanto as minas que já se organizam, que produzem... Lembre-se das minas MÃES por exemplo, que não podem colar por conta de filhos pequeno e etc. Eu não sou mãe e não tenho propriedade de falar disso, mas é algo a acrescentar sempre nos roles.

Você faz parte do coletivo Refuse/Resist, poderia nos falar um pouco a respeito do coletivo, que tipo de trampo realizam e quais os objetivos do mesmo?

O Coletivo Refuse/Resist surgiu em 2015, foi formada por 3 bandas do ABC Paulista, o Mollotov Attack, AxCxBx e o Alto Nível de Insanidade. Surgiu a ideia de fazer um fest para tocarem (onde surgiu o local que fizemos quase todos os shows também, Bar do Pixoca), o evento foi bom, o local foi bom e assim continuaram com os eventos. Eu participo há um ano mais ou menos, conheci o Marco Del Giorno (Baterista do AxCxBx e Alto Nível) meu companheiro, e o primeiro fest que vi foi em Abril/16, desde então sempre ajudava no que precisasse nos eventos e foi evoluindo. Não sei qual show exatamente eu comecei a fazer parte (oficialmente), mas quase sempre estive presente, principalmente do final do ano passado pra cá.  Eventos são abertos e é feito o “chapéu”. Passamos um chapéu e a galera contribui com o que tiver vontade. . A intenção é fazer virar os shows undergrounds mesmo, não tiramos nenhum dinheiro com isso e se tiver é totalmente revertido a melhoria dos equipamentos e a próximos fests (pois as vezes, acabamos tirando do nosso bolso pra fazer, fora nosso equipamento, as vezes de trampo que é utilizado e tal). Este semestre estamos um pouco parados, terá um evento grande em outro local, o Festival da Rua pra Rua onde nosso coletivo ajudará em uma das tendas do evento.
Deixo aqui um mini-doc que produzimos, o Tinguá Thrash em Set/16, de um dos fests.
E o canal do Youtube ( Coletivo Refuse/Resist ), onde podem conferir algumas das bandas que rolaram.



Para não perdermos nosso velho costume de plagiar a Roadie Crew, você poderia eleger os cinco melhores discos já lançados na sua opinião?

Essa pergunta é muito difícil hahahaha Sempre temos aquele 5+ a cada tempo... Tô pensando aqui... A gente sempre acaba esquecendo de algo né?! Mesmo não sendo “menos importante”.
Logo de cara já posso citar a Coletânea Welcome To Venice sem pensar! Tem 4 bandas maravilhosas do Crossover + o Los Cycos que foi um projeto pra esse disco. Inclusive, é o disco que mais amo da minha coleção hahaha
Vou citar também a demo do Shit With Corn Flakes, banda que fez minha adolescência (e posição política também) junto com Nerds Attack!, Nossa Vingança, Isabella Superstar entre outras da época, dos roles de amigos...
Uma outra demo/banda que me influenciou muito, ao curtir o Thrash/Crossover foi o Semen Churches do Possuído pelo Cão! Uma das bandas que não paro de escutar, tive oportunidade de conhece-los, fazer um show deles no Cidadão do Mundo em 2012 junto com uma galera e tal...
Gosto muito do som crossover, não sei qual seria realmente minha banda preferida, como já praticamente citei o Excel na coletânea, vou de Experiment In Fear do Evol!
O som Skate também, gosto demais! Pra fechar vou com o The Faction, banda que gosto muito! O Album No Hidden Messages!
Poxa, teria que ser tipo um +100 agora hahaha veio tantos em mente! Bandanos, Pennywise, Social Distortion, Chuck Norris (Brasil), Violator...

Finalizando, agradecemos novamente pela atenção e reservamos este espaço para que mande seu salve como desejar.

Agradeço novamente o convite para esta entrevista, primeira vez que escrevo para um blog também hahaha...Gostei bastante de ter feito, dos assuntos abordados, foi bem importante dizer. Valew todo mundo que chegou até aqui o final, baita textão nas respostas! Esperam que tirem proveito das ideias, repensem em alguns atos com as minas, conheçam bandas novas, etc...
Colem nos roles do Refuse/Resist, no Festival da Rua pra Rua, ouçam o Ódio Mortal, hahaha (momento jabázão total)
Valew demais! :D




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Entrevista by Microfonia Underground Blog
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quinta-feira, 3 de agosto de 2017

CLÁSSICOS RECENTES DO UNDERGROUND NACIONAL #2

CLAUSTROFOBIA - FULLMINANT (2005)



Falar do Claustrofobia é fácil, não precisamos pensar muito para destacar os caras como uma das maiores bandas de metal nacional dos últimos tempos, eles seguem a todo vapor divulgando seu mais recente lançamento “Download Hatred” (2016), mas o papo aqui é outro e voltaremos um pouco no passado, 2005 mais precisamente.

Depois de sua estreia com o disco homônimo em 2000 e do lançamento de seu segundo álbum “Thrasher” em 2002 a banda vinha numa crescente e com bagagem pra dar um passo além, e de fato ele veio em 2005, com uma produção toda analógica, gravado em fitas, Fullminant ia na contramão do que imperava nas produções da época, abrindo mão de aparatos tecnológicos em sua produção, trabalho como sempre foda do grande Ciero no Datribo, que trouxe o som na cara, sujo e cru na medida certa, tudo muito bem encaixado pra dar cara a um grande disco, que pode ser considerado um divisor de águas na discografia da banda, que sempre evolui a cada lançamento.

A sonoridade trazida em Fullminant tem a essência de tudo o que a banda já havia apresentado até então, mas as faixas se destacam pelo peso absurdo, pela pegada insana da banda ao executá-las, a energia é foda! Foi o primeiro disco da banda a ser vendido internacionalmente e conta com participações de peso, Alex Camargo do Krisiun em “Fact” e de Andreas Kisser em “Eu quero é que se foda”, que vale o destaque como uma das mais fodas da track list, rola também um cover pesado para “Necessary Evil” do Napalm Death, que se encaixa bem entre as faixas, mas sem dúvidas a produção autoral é que domina tudo nesse play!

Destaques são difíceis quando o disco é foda, mas sem dúvidas a abertura com “Disorder and Decay” e a faixa seguinte ‘’Reality Show’’ dão muito bem o cartão de visita do que é o disco, a já citada “Eu quero é que se foda” que é um hino, e vale ressaltar a brutal “Two Faced” em que a pancadaria rola de forma impiedosa, enfim, aqui está um dos melhores álbuns do Claustrofobia e sem dúvidas se encaixa muito bem como um clássico recente do underground nacional, ouça alto!


Formação do Claustrofobia no Fullminant: Marcos D´Angelo guitarra e vocal, Alexandre De Orio guitarra, Daniel Bonfogo baixo e Caio D'Angelo bateria.



P.S. O disco foi relançado esse ano e uma nova prensagem está disponível pra venda na Die Hard Records e nos shows da banda, então dada a recomendação, traga esse disco foda para sua coleção!!!


TRACKLIST DE FULLMIANT:

DISORDER AND DECAY
REALITY SHOW
CLAUSTRUTH
UNDERGROUND PARTY
IT'S NOT ENOUGH TO EXCEED...YOU MUST RUN OVER
TERRO AGAINST TERROR
PROTECTIVE HATE
WITNESS
ROOTS OF DISEASE
EU QUERO É QUE SE FODA
NECESSERARY EVIL (NAPALM DEATH COVER)
TWO FACED
FACT



OUÇA O DISCO EM:

https://claustrofobia.bandcamp.com/

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