Hoje nosso papo é com a apresentadora do programa de rádio Ódio Mortal, DJ e integrante do Coletivo Refuse Resist, Juliana Marotta, falamos a respeito dos trampos desenrolados por ela e sobre a participação feminina na cena underground e as barreiras existentes nesse sentido, no mais confiram a entrevista que ficou daora e conheçam mais sobre a Bajul!!!
Fala Juliana, obrigado
por ceder um tempo para trocar uma ideia com a gente, primeiramente gostaria de
falar sobre o programa em que você é locutora, o Ódio Mortal, como surgiu o
mesmo e de que forma você se envolveu nesse trampo?
Eaeeee! Valeu vocês do Microfonia! O Programa na verdade já
tem uns boooons anos. O Chiclé (Flavio Fernandes), que apresenta o programa
junto comigo, tinha uma gravadora nos anos 80, fez uma coletânea punk chamada Ódio
Mortal e nesta época chamaram ele pra fazer um programa em uma rádio FM e
ficou com o mesmo nome. Anos depois ele criou a Antena Zero com a Tati (Tatiana
Meyer, sua esposa) em 2013 e “reviveu” o programa.
Eu entrei em 2014,
conhecia o pessoal da loja The Records (Loja de discos do centro de SP), tinham o programa “The Records Noise Show”
que também rolava as quintas-feiras, a rádio tem um grupo no facebook, então a
galera costumava ouvir os programas e faziam tipo de um Chat. Neste período, o
programa era apresentado pelo Chiclé e o Ricardinho (Ricardo Perez), um dia em
um dos posts, o Ricardinho me chamou pra participar do programa e no mesmo dia
da gravação, o Chiclé já “me intimou” pra ficar haha
Para quem desconhece o
que rola no Ódio Mortal, como você descreveria o conteúdo que vai ao ar?
Resumindo: punk/hardcore com piadas sem graça hahaha. A gente
brinca que é o programa mais esculhambado da Antena Zero, mas levamos a sério
sim! haha O Ódio Mortal é um programa semanal, rola toda quinta-feira as 21h. Os
setlists hoje em dia é bem variado! Rola
sons desde Powerviolence ao punk “mais calmo”. Tento sempre colocar bandas
diferentes pra galera conhecer.
Hoje existe uma nova
relação das pessoas com a música, as formas de ouvir e interagir se
modificaram, com o streaming e as rádios on line, por exemplo, todos podem
produzir e consumir conteúdo, você acha que isso auxilia ou atrapalha no
underground, uma vez que existem centenas de pessoas jogando material na rede o
tempo todo?
Hoje em dia ajuda bastante em divulgação e tal... Conhecer
bandas, eventos e pessoas, coisas novas em geral... E ao mesmo tempo atrapalha
se não tiver uma certa “conscientização” de apoio, por exemplo com bandas,
lançam as paradas, mas a galera não compra um material físico, por ter na
internet sem custo... A banda tem que pagar ensaio, pagar gravação, pagar os
corres de arte pra aquilo tá no ar, acho superválido ter o material físico!
Como funciona o trampo
de produção da programação do Ódio Mortal, quem mais trabalha com você nessa
empreitada?
Sempre conversamos para decidir o Setlist, temos algumas
vinhetas de temas que sempre tocávamos como Skate Punk, UK82, Straight Edge,
Bagaceira (Powerviolence, fastcore e afins), Clássicos do Punk Rock (Punk
Gringo) e Crássicos do Punk Rock (Punk Nacional). Ultimamente eu que tenho
feito os sets e não tem algo em especifico. As vezes uso uma palavra chave pra
fazer os blocos de músicas, procuro bandas diferentes para galera conhecer (e
até eu acabo conhecendo mais nesta procura haha)
De início, o Chiclé apresentava sozinho, entrou o Ricardinho
para ajuda-lo e eu logo uns meses depois. Após 1 ano mais ou menos que comecei
o Ricardinho saiu e atualmente sou eu e o Chiclé que apresentamos e de vez em
quando alguns amigos gravam com a gente também
Além do site, tem
outros canais onde rola de conferir os programas inéditos e os anteriores?
Para escutar o programa, em tempo real é pelo site da rádio www.antenazero.com ou pode baixar o
aplicativo TUNEIN e procurar pela rádio Antena Zero.
Os programas mais antigos (2016 para trás) estão pendentes
para upload no nosso canal. Este ano
estamos atualizando Mixclound, podem
conferir aqui: https://www.mixcloud.com/programaodiomortal/
Na nossa página do facebook ( Programa Ódio Mortal ), tem um álbum de fotos com cada flyer e na legenda o link referente ao programa da foto. OS Setlists vocês podem conferir tanto no mixclound ou na nossa página. Usamos também um perfil no Instagram ( @programaodiomortal ) Onde colocamos os flyers da semana e algumas fotos ou “stories” da gravação do programa e divulgação de eventos envolvidos.
Na nossa página do facebook ( Programa Ódio Mortal ), tem um álbum de fotos com cada flyer e na legenda o link referente ao programa da foto. OS Setlists vocês podem conferir tanto no mixclound ou na nossa página. Usamos também um perfil no Instagram ( @programaodiomortal ) Onde colocamos os flyers da semana e algumas fotos ou “stories” da gravação do programa e divulgação de eventos envolvidos.
Como locutora de um
programa de rádio, você deve ter contato com bastante material legal, que
bandas que você conheceu nos últimos tempos que você diria que merecem ser
ouvidas com mais atenção?
Aí você me complica! Hahaha É difícil mencionar algumas,
porque sinceramente mesmo, quase todas bandas que recebemos no programa, que
mandaram som para nós tocarmos, foram boas! E tem também o gosto musical
pessoal, gosto das hardcore tipo oldschool, posso citar o Vingança 83, acho uma ótima
banda com conteúdo político e sonoro! 1984 me agradou
bastante também. Com um punk mais “pogante” (77) o Constraste, punk mais
rápido o Bandido
da Luz Vermelha. Manger
Cadavre? e Nuclëar
Fröst além do som, as minas tem presença de palco no vocal bem legais! Static Control (Nardcore)
que tem integrantes que já tiveram várias bandas legais... Mais pro metal o Cranial Crusher
e Imminent Attack...
Por fim, pra não estender mais haha sem puxa-saquismo nenhum, curti conhecer o Alto Nível de
Insanidade, AxCxBx
e o Mollotov Attack
são as bandas do coletivos, porém eu conheci a pouco tempo também!
Você já integrou ou
integra alguma banda atualmente?
Em 2008 eu participei do “No Estoy Convencido!” haha durou
uns 4 meses e 1 show no Espaço Impróprio (RIP), aniversário de um amigo nosso o
PUCCI FEST haha (mas gente é PUCCI mesmo, pq era o sobrenome dele, Renato
Pucci! Haha) banda de hardcore com músicas próprias e tocávamos (tentávamos
né!?) cover de Limp Wrist (Fake Fags) e Los Crudos (Las Madres), aliás, o nome
da banda é referente a uma música do Los Crudos. Acabou por alguns dos
integrantes se afastar dos roles de show e tal. Tem alguns vídeos no youtube,
foram os únicos registros (Valeu Mauá Bucvideos!), tenho vergonha desses vídeos,
pq tava morrendo de vergonha no dia. Era/Sou muito tímida, não sei como encararia
hoje. Além desse projeto, só estraguei música/show dos amigos hahaha
Como mulher, como você
enxerga a participação feminina no underground atualmente? E o que você diria para
incentivar outras minas a meter a cara seja tocando, produzindo, ou organizando
eventos?
Cada dia tenho visto melhorar essas paradas, muito mais as minas
na frente! Posso citar aqui alguns eventos
como o Maria Bonita Fest que já está na sua 5ª Edição, o HI HAT Girls
Magazine que dão oficina de bateria em SP/RJ até para crianças e tudo voltado a
mulheres, as minas do RAP , pelo mínimo que conheço tem feito as próprias
batalhas... Entre outros fests produzindo por ELAS, não digo só mulheres cis,
está surgindo aí mais fests com a visibilidade lésbica e trans! Apesar de todo
role, todo lugar ter alguma pilantragem, as minas que querem realmente
produzir, não deixem de correr atrás, procurar alguma oficina gratuita (pq
grana eu sei que é bem difícil ter de boas haha), que não se desmotivem por críticas!
Sempre terá! Procura de repente as minas
que já manjam dos eventos, a maioria sempre tá disposta a uma boa conversa e
somar, não esperem tudo na mão, façam o corre de tudo que quiserem produzir por
mais “difícil” (grana, tempo, conhecimento...) que seja.
Éééé... as minas tão se organizando cada vez mais, tomando
espaços e cargos, bem legal de se ver!
Obviamente temos muito
o que evoluir no que diz respeito a machismo e todo tipo de preconceito dentro
da cena, isso existe e não há como negar, você já passou por alguma situação
dessa natureza, no trabalho ou no rolê?
Quem nunca? Essa pergunta seria mais difícil você achar alguém
que NUNCA tenha passado algo. Homens nunca entenderão, por mais que digam “
nossa que chato acontecer isso... nossa deve ser ruim a situação né,
IMAGINO...”. Mas nunca vão entender e realmente imaginar, o que é atravessar a
rua pra não passar na frente de um local cheio de homens, de poder estar até de
tênis velho, moletom largo e calça larga, passar por um homem alheio e ouvir
grosserias, desrespeito com você que só ta caminhando e sentir aquele medo e a
raiva de querer revidar .... Querer ver satanás, mil demônios e a mina do
exorcista na sua frente, mas não querer ver algum único homem de noite em rua
pouco movimentada e/ou escura. No meu
trabalho aconteceram situações sim, mas não comigo. A última delas foi fora, um
grupo de 5 meninas foram ao restaurante onde sempre almoçam após o horário e
caras da mesa ao lado, ficaram fazendo gestos obscenos. Fora o que já ouvi
falar de algumas colegas sobre outros empregos.... No underground passei sim,
até hoje as vezes acontece, não é um lugar seguro como a gente sonha com os
discursos libertários rs. Tem shows que você tá ali, parada, nem próximo a roda
e nem nada, só de boas e
aparece uns desgraçados apertando a cintura e tal. Ambiente escuro, muvuca,
como saber quem foi? Vejo as minas que tocam, sempre falaram que são
questionadas quanto ao que tocam e quanto aos aparelhos que usam, se sabem usar
né.... Toda mina tem uma história pra contar, infelizmente. Além de situações únicas
com você, tem aquela velha história que até hoje se repete. Se você namora alguém
do role, você é simplesmente a NAMORADA DO FULANO, não você. Se querem te
chamar pra algo, falam com ELE e não você.... Devem desculpas pra você? Falam
pra ELE e não pra você. Se você apoia seu companheiro de alguma forma no que
ele faz, o agradecimento vai pra ELE e você fica de bônus. Evento? Ah se seu
companheiro não pode ir por algum motivo X, nem te chamam e etc...
Que iniciativas no
sentido de valorizar a participação das minas no underground, você destacaria
hoje?
Com a resposta da pergunta acima, comecem não fazendo isso
por favor haha Colem nos shows, vejam o material, não só de bandas, mas das
minas que produzem algo. Ta fazendo um evento? (É uma merda porque soa como
“cota de mina”) Mas chama elas também, faz um evento equilibrado...Não corta as
falas delas rs E quanto as minas que já se organizam, que produzem... Lembre-se
das minas MÃES por exemplo, que não podem colar por conta de filhos pequeno e
etc. Eu não sou mãe e não tenho propriedade de falar disso, mas é algo a acrescentar
sempre nos roles.
Você faz parte do
coletivo Refuse/Resist, poderia nos falar um pouco a respeito do coletivo, que
tipo de trampo realizam e quais os objetivos do mesmo?
O Coletivo Refuse/Resist surgiu em 2015, foi formada por 3
bandas do ABC Paulista, o Mollotov Attack, AxCxBx e o Alto Nível de Insanidade.
Surgiu a ideia de fazer um fest para tocarem (onde surgiu o local que fizemos quase
todos os shows também, Bar do Pixoca), o evento foi bom, o local foi bom e
assim continuaram com os eventos. Eu participo há um ano mais ou menos, conheci
o Marco Del Giorno (Baterista do AxCxBx e Alto Nível) meu companheiro, e o
primeiro fest que vi foi em Abril/16, desde então sempre ajudava no que
precisasse nos eventos e foi evoluindo. Não sei qual show exatamente eu comecei
a fazer parte (oficialmente), mas quase sempre estive presente, principalmente
do final do ano passado pra cá. Eventos
são abertos e é feito o “chapéu”. Passamos um chapéu e a galera contribui com o
que tiver vontade. . A intenção é fazer virar os shows undergrounds mesmo, não
tiramos nenhum dinheiro com isso e se tiver é totalmente revertido a melhoria dos
equipamentos e a próximos fests (pois as vezes, acabamos tirando do nosso bolso
pra fazer, fora nosso equipamento, as vezes de trampo que é utilizado e tal).
Este semestre estamos um pouco parados, terá um evento grande em outro local, o
Festival
da Rua pra Rua onde nosso coletivo ajudará em uma das tendas do evento.
Deixo aqui um mini-doc que produzimos, o Tinguá Thrash em Set/16, de um dos fests.
E o canal do Youtube ( Coletivo Refuse/Resist ), onde podem conferir algumas das bandas que rolaram.
E o canal do Youtube ( Coletivo Refuse/Resist ), onde podem conferir algumas das bandas que rolaram.
Para não perdermos
nosso velho costume de plagiar a Roadie Crew, você poderia eleger os cinco
melhores discos já lançados na sua opinião?
Essa pergunta é muito difícil hahahaha Sempre temos aquele 5+
a cada tempo... Tô pensando aqui... A gente sempre acaba esquecendo de algo
né?! Mesmo não sendo “menos importante”.
Logo de cara já posso citar a Coletânea Welcome
To Venice sem pensar! Tem 4 bandas maravilhosas do Crossover + o Los Cycos
que foi um projeto pra esse disco. Inclusive, é o disco que mais amo da minha
coleção hahaha
Vou citar também a demo do Shit With Corn Flakes, banda que fez minha adolescência (e posição política também) junto com Nerds Attack!, Nossa Vingança, Isabella Superstar entre outras da época, dos roles de amigos...
Vou citar também a demo do Shit With Corn Flakes, banda que fez minha adolescência (e posição política também) junto com Nerds Attack!, Nossa Vingança, Isabella Superstar entre outras da época, dos roles de amigos...
Uma outra demo/banda que me influenciou muito, ao curtir o Thrash/Crossover
foi o Semen
Churches do Possuído pelo Cão! Uma das bandas que não paro de escutar, tive
oportunidade de conhece-los, fazer um show deles no Cidadão do Mundo em 2012
junto com uma galera e tal...
Gosto muito do som crossover, não sei qual seria realmente minha banda preferida, como já praticamente citei o Excel na coletânea, vou de Experiment In Fear do Evol!
Gosto muito do som crossover, não sei qual seria realmente minha banda preferida, como já praticamente citei o Excel na coletânea, vou de Experiment In Fear do Evol!
O som Skate também, gosto demais! Pra fechar vou com o The
Faction, banda que gosto muito! O Album No
Hidden Messages!
Poxa, teria que ser tipo um +100 agora hahaha veio tantos em mente! Bandanos, Pennywise, Social Distortion, Chuck Norris (Brasil), Violator...
Poxa, teria que ser tipo um +100 agora hahaha veio tantos em mente! Bandanos, Pennywise, Social Distortion, Chuck Norris (Brasil), Violator...
Finalizando,
agradecemos novamente pela atenção e reservamos este espaço para que mande seu
salve como desejar.
Agradeço novamente o convite para esta entrevista, primeira
vez que escrevo para um blog também hahaha...Gostei bastante de ter feito, dos
assuntos abordados, foi bem importante dizer. Valew todo mundo que chegou até
aqui o final, baita textão nas respostas! Esperam que tirem proveito das ideias,
repensem em alguns atos com as minas, conheçam bandas novas, etc...
Colem nos roles do Refuse/Resist, no Festival da Rua pra Rua,
ouçam o Ódio Mortal, hahaha (momento jabázão total)
Valew demais! :D
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Entrevista by Microfonia Underground Blog
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