sábado, 1 de agosto de 2020

ENTREVISTA MÖRBIDEZ

Uma das gratas surpresas que tive nesse ano de 2020, foi esse lançamento da Mörbidez. "Sob o signo de Belial" é o debut desta one man band de Vitória-ES, que nos brinda com uma sonoridade que parece ter sido retirada de uma antiga tumba e ofertada a nós amantes de metal sujo e blasfemo. Surgida sem grandes pretensões a Möbidez chamou atenção pela forma que fez a divulgação do trabalho em suas redes sociais dando uma aura maldita ao lançamento que se confirma durante sua audição, falamos com o homem por trás de todo o conceito apresentado e abaixo você confere o que ele tem a dizer!



Primeiramente gostaria de agradecer por falar com o Microfonia, e pra começar saber, quem é a mente por trás da Mörbidez e como começou seu envolvimento com o metal?

Adriano Simões: Essa pergunta deve ser feita à minha psiquiatra…estamos ainda tentando entender essa mente! Brincadeiras à parte, não sei bem como responder isso, então vou focar na questão do metal. Acredito que minha primeira memória relacionada ao rock e metal foi quando ouvi na infância o School’s Out, do Alice Cooper. Eu não entendia ainda o que eram os instrumentos, nem que aquele som era de uma guitarra distorcida, então foi o estímulo mais puro que pude sentir com música. A partir dali, muito criança e sem entender o que era aquilo, cresci buscando aquela sensação de novo em outras músicas, até ter idade suficiente para perceber e distinguir o que era aquilo. Então vieram Metallica, Judas Priest, Accept, e na adolescência começaram a aparecer as bandas mais extremas, Autopsy, Benediction, Slayer e Celtic Frost. Nesse período veio a atração pelo lado mais escuro da coisa, que ajuda a questionar o mundo que foi colocado à sua frente, e a partir dali foi ladeira abaixo!

Como surgiu a ideia do projeto? Você já esteve presente em outras bandas? E como foi que definiu a sonoridade que gostaria de apresentar na banda? 

Adriano Simões:A ideia veio depois que tive que pausar um outro projeto que comecei a participar no ano passado, a banda Red Prototype. Estávamos em fase de pré-produção de material quando fomos surpreendidos pela pandemia. Estando já nesse ritmo foi inevitável que eu gravasse alguma coisa. Estar na Red Prototype despertou um resgate da excitação de tocar de novo, de fazer som pesado, então creio que isso se refletiu imediatamente na Mörbidez. Sem pensar muito, acabei criando um material que me remete aos primeiros contatos que tive com música mais extrema, com um som que estava naquele limiar entre o metal e o punk, e à atração pelo lado escuro da coisa, com aquele sabor de uma certa ingenuidade adolescente nas letras. 

No material de divulgação não há muitas informações sobre a banda, isso é intencional pra poder aumentar essa aura maldita que tem no disco?

Adriano Simões:Gostei de saber que você captou uma aura maldita! Mas não, essa não era a ideia. Não foi intencional, na verdade comecei a divulgar sem muita pretensão, mas fui recebendo uma resposta positiva, e aos poucos estou inserindo mais informações. Acho que foi preguiça mesmo. Cheguei até a pensar em usar uma máscara, fazer aquele mistério, mas não quis ter ainda mais um aspecto a me dar trabalho. 

Por qual razão optou por realizar o projeto como uma one man band? Quais as dificuldades e quais as vantagens de se produzir um disco dessa forma?

Adriano Simões:Acho que não foi uma questão de decisão, foi algo natural. Desde sempre quis fazer assim. Sou uma pessoa meio reclusa, e com música gosto de ter o controle. Sem nenhuma dúvida digo que não houve dificuldade, só vantagens! Não precisei esperar a decisão de ninguém, ou tempo, etc. Toquei tudo do jeito que eu queria, escrevi tudo como eu quis. Aquela história de escrever pra você mesmo é real, fiz um disco que eu gostei de ouvir. 




Curti bastante o slogan: “Música satânica para tempos infernais”. Poderia desenvolver um pouco mais sobre a parte lírica da Mörbidez, o satanismo explicito é uma filosofia? Confrontamento a essa ditadura religiosa que vem se formando?

Adriano Simões: Defini o conceito de acordo com o som que eu estava desenterrando. A empolgação me fez retomar aquela energia de quando comecei a ouvir música mais extrema, e o tema mais recorrente era relacionado a satanismo, mas sempre ficou claro que isso era um recurso literário. Sem dúvida sinto atração pela ideia, mas a utilização do satanismo na temática da Mörbidez tem caráter metafórico mesmo. Em primeira instância é aquela coisa de falar profanidades para ver se sua mãe vem lavar sua boca com sabão, é uma ato desafiador. Depois, em uma camada mais funda, é uma paleta de cores para pintar ideias sobre enfrentamento, liberdade, independência, e reação a essa bizarra tentativa de retomada de padrões religiosos, como você disse. Quando algo chega ao extremo, a reação acaba extrema também…então acho que o satanismo autodeclarado aqui vem bem a calhar. 

A sonoridade de “Sob o signo de Belial” nos remete aos primórdios do black metal e flerta bastante com o thrash em suas origens, basicamente até a produção soa bem old school, era esse o resultado esperado para o disco?  

Adriano Simões: Sem dúvidas. Fico feliz que tenha notado. Gosto de pensar que essa sensação vem da abordagem que utilizei para timbrar os instrumentos e às estruturas das músicas. Fiz questão de deixar uma ambiência na produção, que é algo que o metal mais moderno não faz, geralmente. Acredito que isso seja o maior fator que deixou o disco com esse ar úmido e cheiro de mofo!



Nos últimos anos parece estar rolando um resgate muito legal do metal praticado nos anos 80, a sonoridade de bandas como Venom, Motorhead, Discharge, Anti Cimex, etc. Vem sendo mesclada e revisitada por várias bandas, quais formações que praticam essa pegada Black thrash, metal punk, você curte e indicaria pra quem quer sacar mais desse tipo som?

Adriano Simões: Nifelheim, Aura Noir, Midnight seriam bons pontos de partida. E qualquer coisa do Darkthrone a partir do album The Cult is Alive. Ali você vai encontrar tudo misturado! 

Mantendo nosso papo no campo das referências musicais, quais foram as fontes de inspiração musicais na hora de compor os sons da Mörbidez?

Adriano Simões: Para esse primeiro álbum tentei pensar como uma banda proto-black metal, com a cabeça cheia de Motörhead, NWOBHM, Crust Punk e Satanás. Isso e muito Celtic Frost, que é a banda que sempre estou ouvindo, e me identifico  muito com a abordagem. 

Existe a possibilidade de rolar o lançamento físico desse material? Pretende expandir o lançamento para outras plataformas além do Bandcamp?

Adriano Simões: Quero muito conseguir um lançamento físico, inclusive já recebi mensagens de interessados em comprar. Mas não acho que conseguiria fazer esse lançamento de forma independente, teria que acontecer um esquema com algum selo interessado. Estou aberto a propostas! Tenho um interesse especial em lançar em cassete, gosto do formato. Quanto às outras plataformas, coincidentemente ao receber seu convite para a entrevista, o álbum entrou em outros serviços de streaming, como Spotify, Amazon Music, Youtube Music e Deezer. 

Além do material disponível, quem optar por adquirir o disco digital no Bandcamp terá disponibilizado o EP de covers “Limbo”, quais faixas há nesse EP e como escolheu as faixas pra realização desses covers?

Adriano Simões: Sim, isso mesmo. Foram faixas que gravei quando estava desenvolvendo o desejo de fazer a Mörbidez, e ainda estava trabalhando no material da Red Prototype. Pode ser considerado um estudo/ensaio para o que viria! As músicas são Black Metal do Venom, Forever my Queen do Pentagram, e Into The Crypts of Rays do Celtic Frost. Foram escolhidas para que eu pudesse experimentar e desenvolver a sonoridade do disco, e fiquei satisfeito com elas. Eu diria que elas complementam o ciclo do primeiro álbum, são um bom material para quem curtir o disco e quiser se aprofundar. 

O disco foi gravado e produzido no estúdio Casa da bruxa em Vitória-ES pelo que foi colocado no Bandcamp, você mora em Vitória? Como é a cena do metal no Espirito Santo? Pergunto isso pois há uma cena hardcore bem conhecida no estado, poderia nos contar um pouco mais sobre a cena metal daí?

Adriano Simões: Sim, moro em Vitória-ES, e o estúdio Casa da Bruxa é na verdade meu home studio. Tenho conhecimento básico sobre a cena hardcore aqui, mas sou a pessoa errada para informar sobre qualquer cena local. Um dos motivos de ser uma one man band é que não frequento a cena local, como disse, sou meio recluso. Há um tempo atrás, pelo menos uns dez anos, cheguei a tocar com algumas bandas, mas é cansativo, exige muita interação e socialização, e digamos que tenho problemas com isso. 

Como nunca podemos deixar faltar nosso tradicional pedido, gostaria que você nos dissesse quais são os cinco melhores álbuns de todos os tempos segundo a Mörbidez?

Adriano Simões: Me amarro em listas! Se eu fosse escolher segundo minhas preferências pessoais seria quase impossível, gosto de coisas muito diversas, por isso fico grato que você tenha facilitado meu trabalho pedindo para escolher baseado no universo Mörbidez. Minhas listas costumam oscilar com o tempo, mas hoje essas são as escolhas:

Morbid Tales - Celtic Frost
A Blaze in the Northern Sky - Darkthrone
Reign in Blood - Slayer
Mental Funeral - Autopsy
De Mysteriis Dom Sathanas - Mayhem

Pra finalizar, gratidão aí por nos conceder essa entrevista e reservo este espaço pra que deixe suas considerações finais.

Adriano Simões: O agradecimento é meu! Saiba que seu trabalho é de imenso valor para manter a música rolando. Trabalho de apreciador para apreciador. 
Espero que todos estejam seguros e que se mantenham saudáveis, e vamos juntos manter a chama do inferno acesa contra essa onda de falso moralismo.





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