quarta-feira, 8 de março de 2017

Entrevista Manger Cadavre?

Na ativa desde 2011, a Manger Cadavre? é uma formação hardcore/crust nativa do Vale do Paraíba, com alguns lançamentos na discografia, eles acabam de colocar na praça "Revide", que vocês devem conferir pois é um ótimo trabalho e um convite ao mosh, trocamos uma ideia com essa galera e vocês podem dar uma sacada no resultado logo abaixo, valeu!





Fala galera, obrigado por falar conosco, primeiramente gostaria que vocês nos contasse um pouco da história da Manger Cadavre, como surgiu a banda e qual a proposta do som de vocês? 


Marcelo Kruszynski: Em 2011, eu e um antigo integrante, o Jux, após conversar sobre bandas de hardcore e de metal que gostávamos em comum tivemos a ideia de começar algo. A ideia era trazer um hardcore tipo Catharsis, mas colocar a influência de tudo aquilo que gostávamos no som. Nisso, convidei o Jonas (atual baixista) e a Nata para tentar vocal junto do Jux, enquanto ele convidou o Patrick para a guitarra. Após alguns ensaios, convidamos o Rogério (ex-Güerilla/Pindamonhangaba) para tocar com a gente. No começo tínhamos 6 integrantes e mais do que isso, éramos de 3 cidades diferentes. Isso acabou interferindo para conciliar shows e ensaios... Foi uma fase bem legal, mas com a saída do Jux, do Rogério e do Patrick, a estada temporária do Bruno (ex-Lunática), resolvemos que 4 era o número ideal, rs. Fizemos alguns ensaios só eu a Nata e o Jonas, até convidarmos o nosso primeiro e único fã da época, o Marcelo Augusto, para tocar. Nesse momento, o Jonas era guitarra e o Marcelinho, baixista. No entanto, o Jonas vem do punk e o Marcelo do thrash... não demorou muito para perceberem que o ideal era inverter as posições e cada um agregar naquilo que é melhor! Nesse meio tempo, gravamos 2 singles, 3 EP´s e 1 split. Nosso som tem referências do curst clássico e do chamado neocrust. Você ainda encontra palhetada de black metal, riffs inspirados em Ratos, Disrupt e Napalm, baixo carregado e sujo do punk, batidas naipe Madball, mas frisamos: somos uma banda de hardcore! 


De que forma vocês escolheram o nome da banda, ele é bem interessante, poderia nos explicar o significado? 


Jonas: Manger Cadavre?(do francês), significa "Comer Cadaver?", foi sugestão do antigo vocalista Jux, logo no começo da banda, é um questionamento relacionado a libertação humana e animal, que era a proposta inicial da banda. Após muita reflexão, resolvemos abordar apenas as temáticas sobre a exploração de classe, gênero, orientação sexual e raça, por mais que tenhamos continuado com nosso ideal abolicionista na causa animal. 


Vocês acabaram de lançar um EP, “Revide”, como tem sido a recepção ao mesmo? 


Marcelo Augusto: Posso dizer, e tenho certeza que os demais da banda também concordam, que esse é o nosso trabalho mais maduro, em todos os aspectos. Creio que finalmente conseguimos lapidar nosso som de uma forma que incorpora todas nossas influências de forma homogênea. Felizmente as pessoas também perceberam isso e a recepção está sendo ótima, sempre elogiando essa viagem que temos feito dentro de estilos distintos do Metal e Hardcore.






Revide está disponível nas plataformas digitais, ele será lançado em formato físico? 


Marcelo Augusto: Revide está disponível no YouTube e Bandcamp no momento para streaming, mas após o lançamento físico, ele poderá ser baixado gratuitamente. Mas como fãs e colecionadores de material físico, não poderíamos deixar de lançar esse trabalho em CD. Já está na fábrica e em breve estará disponível em várias regiões do país graças aos selos e distros que estão nos ajudando a espalhar nosso barulho Brasil afora. 


Vocês estão na ativa desde 2011, este já é o quinto trampo que liberam, vocês poderiam comentar brevemente a discografia da Manger Cadavre, suas impressões sobre cada trabalho lançado até aqui? 


Jonas e Marcelo Krusynski: Lançamos 2 singles "Existimos" e "Sua justiça" em 2012. Esses foram os primeiros registros que foram muito importantes para entendermos os rumos que queríamos para o nosso som. Nosso 1° Ep, o "Origem da queda", veio em 2013. O processo de gravação foi um tanto quanto conturbado, e apesar de não ser o nosso melhor trabalho, temos muito carinho, pois com ele nos efetivamos enquanto banda. Na sequência, lançamos o split com nossos amigos do Disforme, banda de hardcore com vocal feminino de Brasilia. Isso foi em 2015! Foi uma correria, mas gostamos desse trampo, demos um passo a mais em relação àquilo que queríamos no som. O nosso 2° ep, "Senhores da Moral" foi gravado no estúdio Family Mob em 2015, pelo projeto Converse Rubber Tracks e lançado em 2016. Foi uma experiência fantástica sermos produzidos e orientados nesse estúdio. Aprendemos muito sobre execução, gravação (que foi ao vivo) e isso nos ajudou muito no processo de composição do nosso trabalho atual: o Ep "Revide", que acabou de ser lançado. Esse é o trabalho que significa a realização desses quase 6 anos de amizade e crescimento juntos. Jonas: Acredito que o sentimento e dedicação seja o mesmo desde o nosso primeiro single ao mais novo ep, procuramos evoluir e aprender juntos ao longo desses anos, fazer da musica nossa maior resposta contra tudo que enfrentamos no dia dia.


Hoje temos muitas mulheres inseridas no underground, tanto como vocalistas, quanto tocando, como a Nata resolveu se tornar vocalista numa banda de som extremo, e aproveitando o gancho: existe muito machismo na cena?

Nata: No Brasil nós temos excelentes bateristas, guitarristas, baixistas e vocalistas. Não devemos nada pras bandas gringas! rs Felizmente pude conhecer pessoalmente muitas dessas minas que são talentosas pra caralho e servem de inspiração para mim e para tantas outras mulheres que são resilientes nesse meio. Eu sempre tive vontade de ter banda. Tanto que tive uma tentativa frustrada de tocar baixo na adolescência, mas algumas falas de "amigos" me desestimularam, até que bloqueei o interesse, já que aquilo "não era pra mim". O tempo passou e com as responsas da vida adulta, não tinha mais tempo pra aprender a tocar nada, mas a música sempre esteve presente na minha vida (da hora que eu acordo até a hora que eu durmo). Em 2005, eu e o batera (Marcelo K.) começamos a organizar shows de hardcore e metal em nossa cidade e isso era satisfatório pra mim, mas toda vez que a gente trazia banda com mina na formação o olho brilhava. Eis que um dia, a Déia que era vocalista de uma banda de grindcore do ABC, o Demian, me perguntou por que eu não tentava tocar ou "cantar" tipo ela. Aquilo ficou na cabeça. Quando o Marcelo e o Jux resolveram montar a banda, era pra ser algo para amigos passarem um tempo juntos fazendo o que gostam, nisso o Marcelo me convidou. Eu nunca tinha feito esse tipo de vocal. Fui tentando, deu certo. Fui aprimorando e estou em constante evolução. Não posso dizer que eu resolvi ser vocalista, mas esse era um desejo que estava um tanto quanto latente e que se realizou.
Sobre o machismo na cena, é algo que tem e tem pra caralho. Até mesmo os caras que se dizem desconstruídos tem ações machistas. E é sobre esses caras que eu quero falar (já que os que nem tentam, já sabemos como funcionam): Vocês também são machistas, seja não respeitando intelectualmente o que uma mulher tem a dizer, seja criticando ferrenhamente a "qualidade" da produção de mulheres, por trás de uma bandeira de que está sendo "igualitário", enquanto não tece as mesmas críticas a bandas com qualidade inferior produzida por homens, agredir mulheres no mosh (pois se não quer apanhar não pode curtir show) ou mesmo por objetificar mulheres da cena pra pegar e as pra namorar. É muito fácil falar no palco pra "Respeitar as minas" e passar pano pro amigo que é abusivo com outras mulheres, é uma vestimenta muito bacana a dos discursos progressistas contra homofobia, machismo e racismo, quando não se age efetivamente e esses ideias morrem no campo teórico. Tem que ter, tem! Mas é importante lembrar aos caras que desconstrução é uma luta dura e diária. Além do mais, é ingrata! Ninguém vai te agradecer por isso, uma vez que não é mais que a obrigação. E é preciso ter claro que eles vão chegar perto da morte e ainda assim se verão reproduzindo machismo. A cultura patriarcal que existe desde sempre e está intimamente ligada ao sistema capitalista, não vai deixar de existir em apenas uma geração. Portanto, quando lerem uma crítica, não tentem responder com um "nem todo homem", "eu não sou assim"... o patriarcado não é formado por um indivíduo apenas. A autocrítica tem que ser pensada para todo o seu gênero.

Pra quem ainda não teve a oportunidade de vê-los ao vivo, como vocsê descreveriam uma apresentação da Manger Cadavre?

Marcelo Augusto: Podem esperar por uma banda que toca com muita vontade! Costumamos dizer que a Manger Cadavre? é nossa válvula de escape. Diante de todos os problemas e indignação, seja nas nossas vidas particulares ou em relação às injustiças que nos cercam, a banda tá aí pra gente expurgar tudo isso e sairmos do palco cansados, suados e de alma lavada. 


Suas letras contém críticas sociais e políticas, hoje vivemos um momento em que se posicionar é pedir pra ser rotulado e até ofendido, qual a visão da banda sobre isso? 


Nata: Olha, rotulados a gente já é desde o começo da banda e até antes dela hahahaha. Talvéz por sermos mais velhos e não nos importarmos em agradar ninguém, seja fácil e até mesmo natural nos posicionarmos. Somos fiéis aos nossos valores e estamos sempre em busca de conhecimento para mudarmos a nós mesmos e, assim, quem sabe, a realidade que nos cerca. Então pra gente, não é apenas som. É ideal de vida! Já fomos ofendidos algumas vezes, mas não me recordo de ninguém vir falar na nossa cara... pois acredito que a galera saiba que a gente não iria tretar e sim DEBATER, chamar pro desenrolar de ideias e essa galera que parte pra ignorância não tá afim de conversa. Nós acreditamos que é importante se posicionar, pois a neutralidade ajuda sempre o opressor e nunca o oprimido. 


Certamente tocando por ai vocês conhecem o material de várias bandas, o que vocês costumam ouvir fora do palco e dos ensaios e que bandas atuais vocês indicariam pra quem quer conhecer um som novo?

Marcelo Augusto: Conhecemos bandas incríveis tocando por aí ao longo desses anos e nos tornamos fãs delas. Particularmente ouço muita coisa, então fica difícil escolher, mas quando se trata de bandas relativamente atuais que fazem algo diferente que me inspira posso citar Alpinist, His Hero is Gone, Converge, Cursed, Baptists, Wolfbrigade, Wormrot e All Pigs Must Die. Fora essas, tem as clássicas que dispensam comentários como Discharge, Disrupt, Doom e Nausea, por exemplo. Jonas: Além de todas citadas pelo Marcelo,gostaria de acrescentar Catharsis,Fall of elfrafa e Oathbreaker. Marcelo Kruszynski: Vamos das nacionais independetes! rs Desalmado (grindcore/SP), Bandanos (crossover/SP), Surra (hardcore crossover/Santos), Facada (grindcore/Fortaleza), Homicide (grindcore/SC), Rastilho (crust/SP), No Sense (grindcore/Santos), Hellarise (death metal/ SP), Crânula (death grind/SP), Reiketsu (crust/SP), Disforme (hardcore, Brasília), Crushed Bones (Crossover/Brasília), Terror Revolucionário (punk/crust Brasília), SUC (grindcore, São Carlos), Orgasmo de Porco (crossover SJC), Jason (hardcore/RJ), Renagades of Punk (Punk/Aracajú), Eu o declaro meu inimigo (hardcore/ Recife)... Olha, tem muitas. Ficaríamos o dia inteiro aqui e não terminaríamos de indicar. rs

Gostaria de agradecer novamente pela atenção dispensada e reservar este espaço pra que mandem seu salve para os leitores do Microfonia.

Jonas: Obrigado pelo espaço, continuem apoiando bandas, selos independentes e mantenham o underground longe de fascistas ou qualquer forma de opressão. Marcelo 

Augusto: Muito obrigado pelo espaço cedido, muito legal poder falar sobre o que acreditamos e mostrar nossa música. Gostaria de agradecer a todos que sempre nos apoiam, às pessoas, selos e distros que estão colaborando para que Revide seja lançado, aos que colam nos shows, que vem trocar ideia com a gente sobre som e sobre a mensagem que queremos passar. Ficamos muito felizes com essa troca e achamos fundamental, pois acreditamos que o underground deve ser uma comunidade formada por pessoas engajadas em combater todo tipo de injustiça, preconceito e autoritarismo que está aí.




Ouça a Manger Cadavre?





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