sexta-feira, 21 de agosto de 2020

ENTREVISTA DANIEL E.T.E (BONG BRIGADE, MUZZARELAS, DRAKULA)

Daniel Pacetta Giometti, talvez você não o conheça pelo seu nome de batismo, mas com certeza já deve ter se deparado por aí com alguma caveira ou monstro desenhado pelo cara em alguma capa de disco que você ouviu, sob a assinatura de Daniel E.T.E. Isso já seria o suficiente pra quem é do rolê saber de quem se trata, porém o cara é parte da história do underground nacional, integrante fundador do Muzzarelas na ativa desde 1991 e com vários discos clássicos lançados ao longo de sua trajetória, também faz parte do Drakula que está na ativa desde 2007 e aqui abordamos com mais enfase seu mais novo trabalho com a Bong Brigade, que lançou recentemente seu debut. Agora chega de apresentações e vamos direto ao que interessa, confiram a entrevista que fizemos com o Daniel e saiba quais serão os próximos passos de seus trabalhos.


 

Fala Daniel, obrigado por falar com o Microfonia, gostaria de dizer que somos fãs de seu trabalho tanto no Muzzarelas, tanto como desenhista, sempre lançando capas fodas para várias bandas por aí, também curtimos bastante seu novo trampo com a Bong Brigade, então pra começar nos conte como surgiu essa sua nova empreitada e se puder conte alguns detalhes sobre a concepção de “Fuck Armageddon...This is Bong Brigade”!

Daniel Pacetta Giometti:O Bong Brigade surgiu no ano passado, porque começamos a nos juntar toda segunda feira das 22h até as 02h da terça para fazer barulho, trocar ideia sobre nossas bandas preferidas, dar risada e é claro que tinha um Bong no meio da história, daí veio o nome da banda. Eu tinha algumas composições inéditas, mais alguma coisa de uma banta que tive a pouco tempo atrás chamada DESENMASCARADO, aí juntamos com um som feito pelo Leijoto que toca guita e montamos o repertório. Fizemos alguns shows aqui em Campinas e em SP, mas veio a pandemia e por enquanto não pretendemos tocar. Gravamos o disco no final de fevereiro no estúdio da Mutante Radio lá em Americana, tudo captado ao vivo a batera, guitarras e o baixo, foram 12 músicas em umas 2 ou 3 horas. Fizemos as vozes e um ou dois solos de guita na casa do Artie, que mixou o disco.

  A ideia de gravar ao vivo e não editar nada depois foi dar uma crueza que hoje em dia a polícia do bom gosto musical faz questão de eliminar, queríamos que o disco remetesse as paradas feitas nos anos 70 e 80 por achar que essa estética e abordagem complementam o tipo de música que gostamos de fazer e ouvir.

 Já estamos com umas 12 ou 12 composições para um próximo disco, mas estamos esperando a situação da pandemia se resolver para começar a pensar em gravar esse material. No momento estamos trancados em casa só compondo e tirando onda. Os outros caras que embarcaram nesse projeto comigo são o Tomás Companias (guitarra), que toca numa banda bem foda chamada ALL Jokkers e tocou comigo no DESENMASCARADO, o Leijoto (guitarra), que toca no Porrada Solicitada também Victor (baixo)que é irmão do Tomás e tocou no Radiare e o Marcel (bateria, que toca no Derrota e já é meu chapa das antigas, tocamos juntos no Muzzarelas, Desenmascarado e Drakula). Quem começou na batera foi o Cláudião que tocava nas Lunettes.



Vocês lançaram o material em formato de cassete recentemente, a galera procura bastante esse formato? De que forma vocês viabilizaram o lançamento nesse formato? Pretendem estender para outros tipos de formatos físicos?

Daniel: O k7 é uma parada mais restrita né, só colecionador maluco, mas como conhecemos quase todos eles pessoalmente, a primeira tiragem da fita praticamente se esgotou em uma semana, já estamos providenciando outra. Por enquanto esse foi o único formato físico que fizemos por uma questão de grana mesmo, porque o investimento inicial é mais confortável ao nosso orçamento, mas a ideia é lançar em todos os formatos físicos possíveis.



Preciso citar o single maravilhoso da Bong Brigade de “No beer for the nazi scum”, como surgiu a ideia dessa letra sensacional? E claro, parabéns por esse single, colocaremos em nossa playlist sem dúvidas.

Daniel: Legal que você curtiu, ela é inspirada na história de uma pequena cidade Alemã em que os habitantes descobriram que haveria um encontro de adeptos e simpatizantes do nazi fascismo e da extrema direita, então eles compraram toda a cerveja disponíveis não deixando nenhuma disponível para esse tipo de gentalha.O título veio do comentário de uma amiga nossa que é alemã sobre o assunto. Nazi tem mais é que se foder, passar sede, fome, frio, vontade de cagar e apanhar até dizer chega, o mundo não pode ter espaço a quem prega o extermínio de toda uma etnia por acreditar que sua etnia é superior a outras.

Pra deixar mais claro para quem ainda não conhece a Bong Brigade, vocês se definem como uma Banda skate punk influenciada por um monte de bandas que ninguém conhece, mas deveria. Quem seriam essas influencias?

Daniel: Existe todo um universo de bandas maravilhosas que a maioria das pessoas não tem conhecimento, muitas pérolas escondidas ali no subterrâneo,verdadeiros tesouros para quem sabe procurar,bandas como o Impatient youth, Meatmen,M.I.A,Vultos, The Last e até umas coisas mais conhecidas mas nem tanto tipo os Hard Ons e os Adolescents que são o nosso Led Zeppelin e os Circle Jerks que são nossos Rolling Stones.Nos divertimos muito com esse tipo de som e é essa onda que queremos passar.Outra coisa que me influenciou bastante nas composições desse discos foram bandas aqui da América do sul, que são bem conhecidas em seus países mas que por aqui quase ninguém se liga, coisas tipo os primeiros albuns do Attaque 77(Argentina) e Los Prisioneros (Chile),acho que bandas de punk rock bem populares como o Attaque 77 mesmo e os 2 minutos são algo que faz uma grande falta aqui no Brasil

Daniel agora falando sobre seu trabalho como desenhista, você é autodidata, como desenvolveu seu estilo, que é inconfundível e tem uma ideia de quantas capas de disco você já fez?

Daniel: Desenho desde muito cedo, e acho que já cheguei a ter umas 5 ou 6 aulas, o resto foi praticando e estudando por conta, desenhando todo dia por prazer mesmo até que um dia isso acabou se transformando num trabalho. Acabei desenvolvendo algumas características próprias devido até a algumas limitações que eu tenho por não ter feito praticamente nenhum curso de desenho, tive que inventar meu desenho porque sou um péssimo copista, não consigo replicar nem o Cebolinha.

 Perdi as contas das capas, me arrependo um pouco de não ter anotado tudo, mas agora já era, pôsteres sei que foram mais de 200 tranquilamente.

Como surgiu essa paixão por caveiras, monstros e criaturas estranhas?

Daniel: Acho que é por que quando eu era criança assistia muita TV e tinha uma fixação por trem fantasma, aí depois descobri o metal, o punk e os quadrinhos de terror, aí fudeu.

Falando em seus desenhos, do que se trata a arte que vocês soltaram na page do Muzzarelas? Beer’ n Destroy será um novo disco? Poderia nos falar algo a respeito?

Daniel: Sim é um disco novo,14 sons inéditos. Tudo o que você pode esperar de um disco dos Muzzarelas está lá, na real é nosso disco de despedida, um presente de agradecimento a todo mundo que nos apoiou esse tempo todo, o disco vai sair, mas a banda não está tocando mais, ele foi gravado no final de 2017, e é também uma homenagem ao nosso amigo Caio Ribeiro (que faleceu em 2018), com quem já gravamos muita coisa, das primeiras demos, até o Lotus Rock A.D e o Beergod, sem a insistência dele lá no começo nunca teríamos entrado num estúdio. O disco deve sair dentro de uns meses e será distribuído pela Monstro Discos que também vai lançar em cd.




Ainda sobre o Muzzarelas, vocês estão na ativa desde 1991, com todo esse tempo na estrada, que histórias você destacaria que são marcantes na trajetória da banda? Quais a maiores roubadas que rolaram que merecem uma menção por aqui?

Daniel: Tem muita história boa, nossos primeiros ensaio que sempre se transformavam em festas, porque por aqui não tinha muito o que se fazer, então nossos amigos apareciam nos ensaios, levando bebidas e tudo mais,aí começaram  a levar seus amigos tambem,foi uma época muito especial para mim.Ter tocado em várias paradas históricas também como o Juntaribo,no Circo Voador antigo, ter viajado bastante conhecido muita gente, feito muitas amizades que duram até hoje, gostaria de ter anotado tudo isso para saber quantos km já viajamos de carro e ônibus para tocar por aí.Gosto muito também de tudo o que gravamos, tenho um puta dum orgulho de ter conseguido gravar o que gostamos da maneira que gostamos,pq na verdade fizemos o Muzzarelas pensando na banda que gostaríamos de ouvir, sempre quis ouvir uma banda que falava sobre cerveja,monstros,histórias bizzaras,peido,diaréia,pizza,chá de cogumelo e hippies mutantes mas como na época não havia quase nenhuma a disposição por aqui ,fizemos uma. 

Já pegamos muitas roubadas, já jogaram bomba na gente, (mas também já fizemos guerra de bombas ninja no palco), já levamos sapatas, cuspidas, latadas de cerveja fechadas na cara, já levamos inúmeros calotes, shows para 2 pessoas em que uma foi embora na primeira música, já nos escondemos de tiroteio e aproveitamos para fumar um beck enquanto o tiroteio não acabava, já fomos assaltados pela polícia e por aí vai, mas no fim sempre rimos de tudo, a vida sem roubadas é uma tremenda duma roubada.

Uma curiosidade sobre seus trabalhos, já que além da Muzzarelas e Bong Brigade, você integra o Drakula também, como funciona a composição dos trabalhos, como você define pra que banda vai a faixa que escreveu, ou você só trabalha diretamente focado em uma banda de cada vez?

Daniel: As coisas que compus para o Muzzarelas e para o Bong Brigade tem alguma relação entre si, por serem mais baseadas na melodia, como as músicas que eu compus na época do primeiro disco dos Muzzarelas o Jumentor, o Drakula é mais ritmico.No fim não é complicado definir para qual banda vai o som.

Falando em Drakula, teremos alguma novidade também? 

Daniel: Lançamos um EP virtual com 3 músicas gravadas um pouco antes do início da pandemia chamado "O diabo está debaixo da sua cama”, e planejamos lançar uma edição em cassete dupla com as músicas desse EP mais o Comando Fantasma e o Máquina Infernal, estamos fazendo dois vídeos também.



Qual seu disco preferido ou que mais curtiu gravar entre todos seus projetos e qual a razão dessa escolha?

Daniel: Do Muzzarelas meu preferido é o Lotus Rock AxD, apesar de adorar o Jumentor. Do Drakula o que mais gosto são as músicas produzidas pelo Caio Ribeiro em 2017 que estão no Máquina Infernal (que foi lançado o ano passado pela Xaninho Discos), além de gostar muito das composições foram as últimas sessões que pude fazer com o Caio Ribeiro, elas são muito especiais para mim.

Do Bong Brigade meu preferido é o "Fuck Armaggedom”, até porque só tem ele mesmo

Mudando de assunto, como tem sido esse período de pandemia para a banda? E o que você acha que pode ser uma solução pra todo a dificuldade que o pessoal da graxa, músicos, bandas e demais envolvidos com cultura e entretenimento, já que não há uma movimentação do governo quanto a isso?

Daniel:Tanto com o Bong quanto com o Drakula estamos completamente em recesso, não pretendemos fazer nenhum show, não pretendo fazer nem live,saio muito pouco de casa, meus pais tem idade avançada, vejo eles quando é possível e não posso arriscar, assim como também não posso arriscar nem a minha saúde nem a de ninguem,prefiro ficar recluso essa porra toda é séria, conheço gente que já perdeu quem amava, gente que morreu, meu antigo vizinho faleceu esses dias, ele era enfermeiro, um herói, morreu salvando vidas, cuidando das pessoas.

  Realmente foi uma merda para a área cultural, muitos amigos perderam seus empregos e estão passando por dificuldades, perderam sua única fonte de renda, e esse lixo desse governo necromilicianopentescostal não vai ajudar essas pessoas, eles odeiam a arte e a cultura, esses merdas odeiam todo lugar aonde não são predominantes, estamos assistindo a um governo que está constantemente em guerra contra o povo, não só contra seus opositores, mas contra seus próprios eleitores, já enfrentamos ditaduras, hiperinflação e outras desgraças,vamos sair dessa e eles voltarão a fossa séptica da história, de onde nunca deveriam ter saído

Mantendo nosso tradicional pedido nas entrevistas, quais seriam os cinco maiores álbuns de todos os tempos segundo Daniel E.T.E?

Daniel: Sempre mudo meus 5 favoritos entre meus 50 ou mais favoritos, mas no momento vou de...

Ramones - it's Alive - porque nada pode ser mais legal que esse disco, não tem como, pode espernear, chorar, arrancar os cabelos, tirar a calça e pisar em cima, pode gastar milhões, bilhões e trilhões, pode fazer o que quiser, não adianta, nunca um disco será legal como esse, o disco mais legal da banda mais legal do mundo. E quem discordar tá errado.

Hard Ons - So i could have them destroyed, eles sempre conseguiram criar albuns maravilhosos, mas com esse último exageraram na dose, saiu no ano passado e pelo menos para mim é o disco da década e não se fala mais nisso.

Exodus - Bonded by blood - tranquilamente um disco de metal perfeito, sem a pantomima tradicional do gênero ,sem solos desnecessários nem campeonato de egos, só o puro suco da maldade e do veneno do metal oitentista, resultante do encontro da NWOBHM com o Hardcore, Paul Baloff nos vocais cheios de eco,capa feita com aerógrafo,conheci mais bandas legais nas camisetas do Rick Hunolt do que em qualquer outro lugar do mundo, não tem como ser melhor que isso, tenho a minha cópia  desde meus longínquos 14 anos em 1986 alimentando o Belzebu que mora no meu coração, só Satanás salva.

Cólera - Tente mudar o amanhã - do fundo do Capão Redondo, Redson alertando o mundo de que se a parada continuasse daquele jeito ia dar merda, infelizmente o mundo não ouviu e deu no que deu.Eu era um moleque merda que achava que ser punk era explodir a caixa de correio da casa dos outros até ouvir esse disco, aí parei de ser tão besta, o Redson botou mais gente na linha que a escola, o estado e a igreja juntos.

Ratos de Porão - Vivendo cada dia mais sujo e agressivo - Minha bíblia, meu alcorão, meu talmud, meu Bhagavad Gita desde os 16 anos de idade, não sou fã, sou devoto. Nada é mais estiloso que as fotos do RDP tiradas lá na Tattoo You, não adianta nem tentar, ser punk é ser chique e aquilo é puro luxo, vale mais que um Rolls Royce de ouro encrustado de diamantes.

Também poderiam entrar nessa lista The Clash - Give 'em enough hope,Slayer - Reign in Blood, Rolling Stones - Exile on main street, MC5 - High time, Patife Band - Corredor polonês, Misfits - Walk among us, Leptospirose - Tatuagem de coqueiro, The Sonics - Boom, Motorhead - Overkill, Metallica - Ride the Ligthning, Bad Brains - The youth are gettin' restless, Goo Goo Dolls - Hold me up (sim acreditem, eles já foram uma banda boa), Dead Milkmen - Soul rotation, Circle Jerks - Wild in the streets e todos os dos Ramones e dos Hard Ons

Daniel, gostaria de agradecer por trocar essa ideia com a gente e reservar esse espaço pra que mande seu salve como quiser, valeu!!!

Daniel: Eu que agradeço mano, se cuida aí e vamo que vamo!


OUÇA OS TRABALHOS:

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https://muzzarelas.bandcamp.com/

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